Racismo policial
Em 1978 (eu tinha 21 anos), bebia cerveja num boteco na Rua Marquês de São Vicente, em frente à PUC-Rio, onde estudava. Comigo estava o Messias, um querido amigo, pretinho de brilhar.
Por volta das 19 horas entram 2 PMs no bar e começam a pedir documentos dos clientes. Vigorava a ditadura militar e pessoas, negras e pobres, obviamente, eram presas por "vadiagem". Sim, existia o crime de vadiagem. Imaginem isso hoje, com os milhões de desempregados que circulam Brasil afora.
Eu e o Messias bebíamos em pé, encostado num canto do balcão, como bons profissionais do copo que éramos.
Os dois 'puliça" se aproximaram e pediram os documentos do Messias. Tudo certo. Quando iam saindo eu disse:
- Ué, não vão pedir os meus? Que porra é essa?
Voltaram e um deles me disse:
- Quer ir em cana?!
- Quero!!! Mas antes vocês liguem para meu tio, o coronel Humberto, comandante do batalhão de Nova Iguaçu, e digam a ele que estão me levando preso.
Um deles entrou no camburão, passou um rádio, voltou, chamou o parceiro e foram embora.
O Humberto, um doce de pessoa, é de São José do Calçado, a cidade onde nasci, e amicíssimo de meu pai.
Virar sobrinho emprestado dele no período da ditadura me salvou algumas vezes nas esbórnias da vida. Depois, ele me passava um leve sermão e ria das minhas estripulias.
Este é o Brasil racista, autoritário e injusto. Uns são protegidos por sua cor e origem social; outros, a imensa maioria, nascem culpados por virem ao mundo negros e pobres.
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