São José do Calçado (ES) |
Terra querida
Zatonio Lahud
Estou aqui pensando no que escrever.
A mente está dispersa. Quando estou assim viajo até minha infância. Tive uma
infância feliz e tranquila na minha querida São José do Calçado, uma pequena,
linda e aconchegante cidade que fica ao Sul do Espírito Santo, quase na divisa
com o Rio de janeiro e não longe da de Minas Gerais. Futebol na rua com os
amigos, jogar botão, pegar passarinho, banho de rio, jogar baleba (bola de
gude), brincar de pique na praça, roubar jabuticaba no quintal do Chico Vieira. Era livre.
Até que meu pai resolve mudar para Niterói.
Fui do paraíso ao inferno. Passei um ano chorando. Só parava na hora de ir à
escola. Nada até hoje me doeu mais que a brusca mudança.
Saudade é o tempo que não passa
dentro da gente. E doía. A saudade das ladeiras sinuosas de minha terrinha
amada. E doía. A saudade dos amigos, alguns perdidos para sempre na infinitude
do mundo, mas guardados com carinho em meu coração. Não, não é uma dor que
machuca, é dor que renova; antes proteção que dor. É lá, nos melhores
12 anos de minha vida, que procuro refúgio das dores sentidas- passadas, atuais
e vindouras.
Arrancaram-me do meu paraíso como se
arranca uma raiz do solo. Mas as sementes se renovam e renascem em meu coração.
E quando brotam novamente, como agora, algumas lágrimas fugidias escorrem em
meu rosto. Lágrimas de saudade, sim! Mas também de alegria por ter comigo cada
ladeira de Calçado. Agora mesmo, estou descendo a Rua XV, vou ao poço do Chicão
tomar um gostoso banho de rio. No caminho encontro o Zé Manada, a Cascuda e o
Divino Zói de Sapo.
Escondo-me atrás do poste e grito:
Cascuda!!! E lá vem ela, correndo e xingando todos os palavrões que conhece. Corro
e escapo dela. Pouco mais à frente grito novamente: Divino Zói de Sapo!!! E lá vem
ele, porrete na mão, tentando me pegar. Corro, feliz!, rumo ao Rio Calçado, que
é o maior rio do mundo, não por ser o rio de minha aldeia, não, grande Fernando
Pessoa, mas por ser o rio do meu coração, onde deságua toda a saudade que tenho
de ti, terra querida, terna e eterna. São José do Calçado... Que deveria
chamar-se São José da Saudade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário