PASSAGEM
Árvores mortas
e o silêncio da noite
há a rua de ter um final , eu bem sei
assim como o ato de caminhar
com o corpo no álcool e a alma na merda
talvez devesse parar agora
em vez de com palavras
agredir a quem amo
e a mim mesmo mais do que ninguém
sou feito de contradições que nem decifro
não digiro as palavras que aprendo a manejar
e nem me dou por vencido ( velha teimosia )
apesar de há muito já ter perdido
com um olho na distância
sinto a madrugada insinuar entre cores
os faróis da manhã
mais um dia se foi e eu sobrevivo
sem expectativa do outro que vem
confuso e maquinal , acendo
o sexagésimo cigarro do dia
depois beijo o ventre da aurora
e durmo
o velho sono dos injustos
- Bruno Junger Mafra - "A Valsa Esquecida" , p. 127
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