27 de junho de 2013

Diários de amor perdido XIII - João José de Melo Franco

Um dos mais belos poemas que li nos últimos tempos. Fantástico.

Diários de amor perdido XIII - João José de Melo Franco

Ele esperou… 
Tanto, tanto, tanto… 
E esperou de tal modo, 
como se fora sua sina e o mais íntimo fado, 
que não mais lembrava quantas vezes virara a ampulheta.

E a virara tanto, tanto, tanto… 
que apagou a hora e afastou o pranto, 
até se transformar no girar dessa ampulheta e, depois, 
na areia que caía e recaía e, finalmente, 
no deserto de onde trouxeram a areia.

Assim, homem-deserto, 
na mais negra de suas noites, 
fitou perplexo a abóbada repleta de astros, 
onde divisou as constelações copulando há bilhões de 
anos, 
muito antes da espécie humana florescer sobre a terra, 
então imarcescida…

Assim, homem-deserto, 
entendeu, pela primeira vez, que a vida é portal e passagem 
e, por isso, já passado… 
Que do passado a saudade nos aferra e aprisiona 
e o tempo é seu cárcere.

Todos os homens do mundo já foram esse homem.


João José de Melo Franco nasceu em Barretos, São Paulo, em 1956, e hoje, reside no Rio de Janeiro. É poeta, tradutor, publicitário, cineasta e editor, e estreou, em 1979, com o livro Primeira Poesia. Depois publicou Esse Louco Desejo (1980) e Amor Perfeito (1984). Em 2006, depois de 20 anos afastado do mercado editorial, publicou O Mar de Ulisses, pela Ibis Libris Editora. Em 2010, publicou Pequeno Dicionário Poético.

Nenhum comentário:

Postar um comentário