Ano novo, injustiça velha. Estava aqui a vagar placidamente pela Internet quando me deparo com a foto daquela recatada e tímida mocinha- tão acanhada que chega a tapar seu rosto- que enfeita estas linhas. Interessei-me vivamente pelo anel que ela carrega em um dos dedos de sua mão direita. Olhava o anel atento e enlevado pensando na alegria de minha doce e pacata amada se lhe der um igual no dia de seu aniversário, que é em janeiro- eu sei que está um pouco longe, mas como só tenho olhos, bolsos e pênis para minha paixão, passo o ano escolhendo presentes para agradá-la-, quando percebo Toy, meu fiel companheiro, partir em desabalada carreira rumo à sala arrastando sua caminha. Foi minha salvação: abaixe-me e senti o ferro de passar roupas passar triscando por minha orelha esquerda, depois mais uns objetos voadores que não consegui identificar se espatifaram na parede. Consegui me exilar no banheiro. Lá fora continuavam os impropérios injustos de sempre: Safado!!! Galinha!!! Vagabundo!!! Indecente!!!...e outros menos nobres e desaconselháveis para dizer aqui.
Agora estou exilado na sala de meu próprio lar, conjuntamente com Toy, que não para de tremer.
Vejam vocês o tamanha da injustiça de que estou sendo vítima: por querer agradar minha delicada e calma amada quase fui assassinado e expulso de meu próprio quarto. Ela adora anéis e queria comprar um igual ao que enlaça o dedo da moça. Exclusivamente por este nobre motivo estava vendo a maldita foto.
Mas eu a perdoo, meu amor é tão grande que sublima tudo, até a mais injusta das injustiças.
Estou aqui me ajeitando no sofá e o Toy me olhando com aquele cínico olhar canino, como se estivesse rindo de minha triste desventura.
Minha salvação é que está ameaçando dar umas trovoadas, se der estou salvo, minha paixão morre de medo de trovões e só se sente segura quando está aninhada em meus braços. Me ajuda, São Pedro, por favor...
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