A alegria não tem idade
Silvia Britto
Silvia Britto
Lá
ia eu no ônibus, a caminho do trabalho, sentindo-me numa montanha-russa
de emoções. Nos poucos minutos que separam a Urca de Copacabana,
consegui atingir a proeza de chorar de solidão, palpitar de paixão,
sucumbir à tristeza e encher-me de alegria e esperança. E foi como desci
do ônibus. Exultante e feliz, agradecendo a meu Piccolo Dio por estar
viva e ser capaz de sentir todas essas emoções que essa tal de vida nos
oferece.
Cheguei
ao prédio onde trabalho e, como sempre, dei um bom dia sorridente ao
porteiro e à ascensorista. Essa última perdeu um filho há poucos meses.
Ele simplesmente desistiu de viver e acabou com a própria vida. Com a
dele e com a dos que o amavam. Mas não me cabe julgá-lo. Cada um sabe a
dor e a delícia de ser o que é. Sua mãe e eu conversamos pouquíssimo
sobre o assunto. Apenas pelos poucos minutos em que espero pelo elevador
no térreo. Mas foram minutos mais do que suficientes para travarmos uma
intensa relação de mulher para mulher, mães da vida. Ela identificou em
mim uma pessoa que a entendia instantaneamente, com pouquíssimas
palavras.
Hoje,
também como sempre, eu lhe disse: "Bom dia minha flor!". "Bom dia
Doutora! Linda como sempre; parece uma menininha!" E nos abraçamos e
beijamos como duas meninas sempre fazem. A tudo assistia um senhor, de
já lá seus oitenta anos. Ele brincou:
-"Sabem por que as mulheres se beijam? Para não se morderem!"
Como
nasci sem alguns genes, dentre eles o da "fica-quietice", retruquei:
"Não!!! Nós amamos do nosso jeito e mordidas também fazem parte!"
E continuei brincando: “É pura inveja sua porque não pode beijar também!”
E entramos os dois no elevador, deixando a ascensorista no térreo, a cuidar de seus elevadores.
O
senhor era dos meus. Continuou brincando e disse: "Agora estou com medo
de ficar aqui sozinho no elevador com você!" Caí na gargalhada e
perguntei-lhe se por acaso eu tinha cara de quem atacava homens
indefesos no elevador. Ele riu e respondeu que, infelizmente, não.
Confessei-lhe
que adorava levar a vida rindo e brincando e ele me disse que era muito
bom ver pessoas ainda tão jovens (?! Isso era para mim?!) que já haviam
percebido que essa era a idéia. Seguiu dizendo que tentara passar isso
aos seus filhos e netos mas que, infelizmente, sentia que falhara.
Cheguei
ao meu andar e, antes de sair, disse-lhe que não. Ele não falhara. Eles
é que ainda não haviam adquirido a sabedoria de ouvi-lo. E me despedi
mandando-lhe um beijo soprado com uma piscadela. Ele sorriu e mandou-me
outro de volta. E seguiu seu caminho, andar acima. Simples assim. Mais
uma das minhas pequenas coisas.
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