5 de outubro de 2010

Estou me humanizando

O menino entra na padaria, são 8 da manhã, várias pessoas no balcão, o garoto-uns dez anos-, magrinho, olhos amedrontados ou humilhados, ou tudo junto, pede que alguém lhe pague um pão. Todos viram a cara. Um atendente vem e retira o garoto. Ao meu lado duas mulheres conversam:- " Você já comprou o CD novo do padre Fábio Mello, é lindo!, transborda amor por todo lado, cheguei a chorar quando ouvi." A outra diz que não, mas vai comprar e combinam ir ver um show dele. Saio na frente delas e vou à banca ao lado comprar um jornal, quando volto, a " mulher do padre" vai pegar seu cachorro que está amarrado na porta da padaria, um poodle, daqueles bem viadinhos, de sapatilha e tudo, o garoto está sentado no chão, ao lado do viadinho, quer dizer, do poodle, e acaricia a cabeça do cachorro. A mulher olha com expressão de nojo para o menino, pega seu fresco cachorrinho e se vai.

Volto para casa, me sento para escrever e percebo que estou me tornando humano, fui incapaz de pagar um pão para o garoto, nem me passou pela cabeça. Estou melhorando, acho que vou comprar uns Cds desse padre para me aperfeiçoar, ou de seu colega, Marcelo Rossi, que um dia vi cantando uma musiquinha ridícula, uma de bichinhos, falava nos bichos e dava uns pulinhos e todo mundo pulava junto. Uma cena patética!

Para completar meu caminho rumo à humanidade plena- e burra!- vou comprar uns livros que  ajudem a  conectar-me com o Universo; vou começar a enviar e-mails com correntes religiosas para vocês; vou ler toda a porcariada que o Paulo Coelho escreveu- e ficou podre de rico, que inveja!-;  e assistirei ao próximo BBBaBBacas na íntegra, sem perder um dia. Ainda não vi, mas na Record tem um tal de A Fazenda, pelo que lí o nível de imbecilidade é o mesmo. Verei a patir de hoje. Não posso perder mais tempo rumo à minha nova humanidade.




Falando em cachorro, e o julgamento do caso Roriz pelo STF empatou: 5 x 5. E nós continuamos a contar piada de português. Como diz uma amiga minha: ai...ai...

Que os nobres ministros do STF me perdoem, mas 5 x 5 é resultado de jogo de várzea, daquelas peladas bem safadas. Vou parar, hoje estou com a cachorra, aliás, tô nada, acho é que vou arrumar alguma por aí...





Do lado do computador, está Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdã, livro que adoro, na capa tem uma pintura com a imagem dele escrevendo, olho e ele está dando um sorriso irônico para mim, como se dissesse: - " Coitado, destrambelhou de vez..."

2 comentários:

  1. A cena da padaria é íconica. Se fosse desenhista, reproduzia para ilustrar o nosso atual momento. Aliás, estas senhoras, se não me engano, são as mesmas que andam espalhando por aí que o Bolsa Família é esmola e fábrica de vagabundos. Aliás, pra quem não sabe, este programa está sendo comparado, pelos gringos, como semelhante ao do Roosevelt em 1939 nos EUA. Mas essa gente não lê, não é? A fé deles é mais que suficiente.

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  2. Verdade, amigos, uma fé sem compaixão não é fé, é hipocrisia, para não dizer coisa pior.

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