29 de setembro de 2010

Saudosa Senzala

A Quem Interessa a Exclusão Social?

Será que existem - ainda - imbecis com saudades de cenas como essa?


A psicanalista gaúcha  Diana Corso publicou um artigo interessante no jornal Zero Hora de Porto Alegre hoje. O artigo "Saudosa Senzala" está abaixo.

Se alguns mais ricos, sem generalizações,  têm saudades da época da senzala e são contra politicas de inclusão social que se danem, porque não pode interessar a ninguém ver este país mergulhado na injustiça social, na pobreza,  miséria e na ignorância.

Os problemas causados pela pobreza afetam e muito os mais ricos, porque geram violência, poluição, insegurança e menos consumo. E tudo o que um capitalista mais deseja é ver mais e mais pessoas consumindo.O aumento da classe média deve ser festejado por todos, pois é politica de convergência e inclusão social.

No Brasil de hoje parece interessar muito mais a uma casta política que está no poder manter o povo na miséria e na alienação do assistencialismo e da esmola do que alguns setores mais endinheirados da sociedade. ( Nirma Regina Constantino)

Abaixo o bom artigo da Psicanalista Diana Corso:

Saudosa senzala

O Brasil mudou muito nesses últimos anos, e nem todos prestamos atenção ou nos demos conta, para bem ou para mal não somos os mesmos. Especialmente as classes C e D são as novas protagonistas num país que não estava acostumado com isso, agora elas compram, estão mais visíveis. Pequenos detalhes, como ter um telefone que era caro e difícil, hoje é barato e banal, estão acessíveis a geladeira nova, a TV maior, o trânsito está entupido por novos carros. Prestações e carnês enchem as lojas e esvaziam as prateleiras.


Entre os irritados com a conjuntura atual, encontram-se alguns economistas que, em seus termos misteriosos, fazem previsões de que pagaremos caro pelos dias de fartura. Sei lá, sou ignorante de suas sabedorias. Mas há outro tipo de gente incomodada com a situação atual, e esses, sim, me exasperam: são os viúvos do sistema de castas, que tinham um sem-número de pobres à mercê de suas roupas velhas, pequenas esmolas e favores de senhor da casa-grande. Essa senzala invisível está sendo erradicada do coração dos mais humildes, mas sobrevive na memória recente dos mais abastados e não é fácil abrir mão dela.

A diferença social fazia de qualquer remediado de classe média um senhor feudal, sua vida era mais admirável, seus bens mais reluzentes, seus filhos mais promissores. Hoje, o filho de uma empregada doméstica pode disputar vaga na universidade federal com o da patroa que estudou em escolas caras, graças ao sistema de cotas, o que enche esta última de indignação, e ambas podem ter o mesmo modelo de celular. Mesmo entre os intelectuais, uma miséria digna e consciente lhes parece mais atraente do que essas novas hordas de entusiastas consumidores, de quem lamentam a banalidade de horizontes.

Um ser humano se torna o que é porque outro lhe faz espelho, contraponto. A miséria de uns auxilia a que a imagem de outros pareça mais faustosa, são papéis que se complementam. Melhores índices de qualidade de vida em um país, portanto, não têm motivo para agradar a todos, mesmo que seja por motivos inconfessáveis, inconscientes. Estamos muito longe da igualdade social com que sempre sonhei, mas esse novo quadro, aliado ao fato de que os candidatos mais importantes neste pleito são oriundos das fileiras da luta contra a ditadura, me deixa de bom humor. Gosto de ver a política viva, embora ela costume aparecer apenas trajada de escândalos, prefiro-a paramentada de promessas. Além disso, nunca esqueço que as eleições diretas foram uma árdua conquista, por isso, elas ainda me produzem certa emoção, simplesmente por existirem.

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O país está mudando, para melhor, apesar do muito que ainda precisa ser feito. Só seremos um país realmente livre e digno quando estirparmos, definitivamente, a miséria, o analbetismo, a indignidade de ver crianças perambulando pelas ruas, drogadas e sem futuro, herança dessa gente, que acha que o país é deles e ficam histéricos com  a ascensão de milhões de braileiros ao mercado de trabalho e, consequentemente, ao de consumo. Apoiaram a ditadura, votaram no Collor e dizem que o povo não sabe votar. Tenho pena deles, pobres de espírito e preconceituosos...o limbo da História vos aguarda. E que fiquem lá, para todo o sempre.

2 comentários:

  1. Concordo em tudo com o que diz o texto. O apartheid , isto sim, apartheid, e que sempre
    existiu no Brasil, não interessa àqueles que sempre se sentiram verdadeiramente senhores
    de engenho, donos da casa grande, onde a sinhazinha branca sempre teve subjugada a
    seu mando a escrava negra (isto se perpetuou em nossa cultura na relação patroaxempregada,
    "uma mulher escravizando outra").A melhor ilustração para mostrar a quem interessa a
    continuidade da grande diferença entre ricosxremediadosxmiseráveis é o q acontece no
    Nordeste, onde os antigos "CORONÉIS" se encontram hoje representados na política nacional e
    migraram para Brasília, de onde legislam em causa própria e não se tem notícia de nenhuma
    ação efetiva para que a água tão escassa seja um bem acessível a todos. Isto pq a água levaria
    riqueza ao sertão. E assim melhoria de vida, de educação,saúde... e esse povo, então letrado,
    por assim dizer não elegeria aquela cambada que durante anos e anos saqueia os cofres nacionais...

    Falei demais, me empolguei.

    Obrigada, um gde abraço.
    Regina Dutra

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  2. Zatonio, só tem um jeito para os "saudosos da senzala": mudarem-se todos prá Miami.

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