Não tenho pátria; muito menos pátria amada; sou pátria nada; não-pátria, a minha, onde não desfilam homens armados; não há nem generais nem coronéis; minha pátria é solitária, desfilo sozinho na amplitude da avenida vazia. Um bêbado me saúda em continência; da outra calçada uma prostituta, desgrenhada da noite de trabalho me manda um beijo. Mais à frente, um homem de muletas se une às minhas fileiras, os três vira-latas que o acompanham formam a comissão de frente. Seguimos desfilando, quando um grupo de mendigos, com uma bandeira do Brasil, rasgada e suja, tremulando presa a um cabo de vassoura se une a nós. No quarteirão seguinte um bando de bêbados, acompanhados de algumas prostitutas e travestis, bebem em um trailer decadente, ao verem a tropa que desfila, aplaudem com entusiasmo e se unem a nós. Continuamos marchando, pouco mais um grupo de músicos saindo de uma boate vê a trupe que marcha imponente, pegam seus instrumentos e se postam atrás de nós, tocam Aquarela do Brasil, nos prédios algumas janelas se abrem e gritos de vivas começam a surgir, alguns jogam papel picado; na esquina seguinte um grupo de estudantes, carregando um poster do Che, nos aplaude com entusiasmo e cerram fileiras conosco. O céu começa a ficar branco de papéis esvoaçantes, o sol brilha fulgurante; seguimos, um grupo de soldados em sua fardas engalanadas, estão reunidos à espera do desfile oficial. Ao fundo a música muda, todos cantam O Bêbado e o Equilibrista, alguns soldados cantam junto conosco, aos poucos colocam suas armas no chão, vão saindo de suas fileiras e se unindo a nós. O povo desce das arquibancadas e passa a nos seguir, somos milhares. O som aumenta, os músicos militares agora reforçam nosso desfile. Chegamos em frente ao palanque das autoridades, alguém no meio de nossa multidão sobe no palanque, pega o microfone e começa a cantar o Hino Nacional. Todos cantam em comunhão, as autoridades descem do palanque e se vão, todos se confraternizam. Ao longe ouço o tropel de cavalos... Nos dispersamos. A pátria minha, morreu.
Gostei demais deste texto, maravilhoso! Zé de Alencar ou Bilac, por ex., não exaltariam melhor esta nossa querida pátria.
ResponderExcluir7 de setembro nos salta aos olhos todos os dias, e também em nenhum. Quando passares por minha rua, junto-me às fileiras de teu exército, caro Zatonio.
Um abraço.
Eita, esta é a verdadeira Tomada da Bastilha. Santa Revolução dos nossos mais Sublimes Sonhos, não nos deixeis cair nos porões da ignomínia mas inspira-nos a prosseguir imunes às balas do Batalhão de Choque, porque o nosso destino é a redenção do ser humano na terra.
ResponderExcluirPasé a dejarte mis saludos Zatonio.
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