6 de setembro de 2010

A pátria minha

Não tenho pátria; muito menos pátria amada; sou pátria nada; não-pátria, a minha, onde não desfilam homens armados; não há nem generais nem coronéis; minha pátria é solitária, desfilo sozinho na amplitude da avenida vazia. Um bêbado me saúda em continência; da outra calçada uma prostituta, desgrenhada da noite de trabalho me manda um beijo. Mais à frente, um homem de muletas se une às minhas fileiras, os três vira-latas que o acompanham formam a comissão de frente. Seguimos desfilando, quando um grupo de mendigos, com uma bandeira do Brasil, rasgada e suja, tremulando presa a um cabo de vassoura se une a nós. No quarteirão seguinte um bando de bêbados, acompanhados de algumas prostitutas e travestis, bebem em um trailer decadente, ao verem a tropa que desfila, aplaudem com entusiasmo e se unem a nós. Continuamos marchando, pouco mais um grupo de músicos saindo de uma boate vê a trupe que marcha imponente, pegam seus instrumentos e se postam atrás de nós, tocam Aquarela do Brasil, nos prédios algumas janelas se abrem e gritos de vivas começam a surgir, alguns jogam papel picado; na esquina seguinte um grupo de estudantes, carregando um poster do Che, nos aplaude com entusiasmo e cerram fileiras conosco. O céu começa a ficar branco de papéis esvoaçantes, o sol brilha fulgurante; seguimos, um grupo de soldados em sua fardas engalanadas, estão reunidos à espera do desfile oficial. Ao fundo a música muda, todos cantam O Bêbado e o Equilibrista, alguns soldados cantam junto conosco, aos poucos colocam suas armas no chão, vão saindo de suas fileiras e se unindo a nós. O povo desce das arquibancadas e passa a nos seguir, somos milhares.  O som aumenta, os músicos militares agora reforçam nosso desfile. Chegamos em frente ao palanque das autoridades, alguém no meio de nossa multidão sobe no palanque, pega o microfone e começa a cantar o Hino Nacional. Todos cantam em comunhão, as autoridades descem do palanque e se vão, todos se confraternizam. Ao longe ouço o tropel de cavalos...  Nos dispersamos. A pátria minha, morreu.




3 comentários:

  1. Gostei demais deste texto, maravilhoso! Zé de Alencar ou Bilac, por ex., não exaltariam melhor esta nossa querida pátria.

    7 de setembro nos salta aos olhos todos os dias, e também em nenhum. Quando passares por minha rua, junto-me às fileiras de teu exército, caro Zatonio.

    Um abraço.

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  2. Eita, esta é a verdadeira Tomada da Bastilha. Santa Revolução dos nossos mais Sublimes Sonhos, não nos deixeis cair nos porões da ignomínia mas inspira-nos a prosseguir imunes às balas do Batalhão de Choque, porque o nosso destino é a redenção do ser humano na terra.

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  3. Pasé a dejarte mis saludos Zatonio.

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