20 de maio de 2010

Recebemos mas não recebemos

Meu tio Féres, foi quem deu início à saga da família Lahud no Brasil; foi um dos milhões de imigrantes que aportaram por aqui nas grandes levas imigratórias ocorridas nas primeiras décadas do século XX. Depois de alguns anos trabalhando como mascate abriu(1922) em Calçado a Casa Libaneza( com Z ) e algum tempo depois trouxe o irmão- meu avô- para ser sócio dele na venda, como se dizia à época. Como por todo o Brasil, por onde se espalharam, várias histórias de "TURCOS" foram criadas e passaram a ser parte do folclore nacional. Vou contar uma de meu tio que meu pai adorava.

O ano era 1936, chega um vendedor para cobrar Seis contos de Réis, débito decorrente de uma venda que fizera a meu tio Féres. Em verdade, o vendedor havia chegado uns 10 dias antes do combinado e pegou o tio desprevenido pois era uma quantia relativamente alta. Sabedor das dificuldades de transporte e comunicação naqueles tempos, Féres chama Jair Mello, seu funcionário, e diz: " Jair vai na casa do Quiquito e pede a ele pra mandar Seis Contos de Réis para  pagar o rapaz aqui, ele me deve mais do que isso e depois acertamos."

Cerca de uma hora depois, volta o Jair e, com ar desconsolado, comunica ao tio: " Olha seu Féres, falei com seu Quiquito e  ele disse que o peguei de sopetão e ele não tinha a quantia no momento, mas me mandou pegar com o Casulito, que deve um dinheiro a ele; fui lá na casa do Casulito e ele também não tinha o dinheiro, mas falou para debitar os Seis Contos de Réis na conta dele pois tem dinheiro com o senhor, decorrente da venda do café dele que o senhor vendeu...é isso!"


Tio Féres coçou a cabeça, olhou para o vendedor, pensou um pouco e decretou : " Jair, debita lá no livro, recebemos mas não recebemos...Seis Contos de Réis!

Ao atônito vendedor restou filar a bóia e voltar na data correspondente ao pagamento da fatura.

2 comentários:

  1. Hahaha. Boa história esta! Desde aquele tempo há "jeitinho" pra tudo por estas nossas bandas, não mesmo?

    Abraço,

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  2. Uma prova que o nosso "jeitinho" é das arábias!

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