Estou na janela, na bela árvore defronte um Bem-te-vi em voo certeiro pega a borboleta que voava suave e despreocupadamente em zigues-zagues tranquilos. Pousa no fio e a bate sofregamente contra o mesmo até não haver mais sinal de vida. Depois, com ar vitorioso, alça voo em direção ao infinito. Seu breve infinito termina, sofregamente, no bico do Falcão Peregrino que o espreitava ao longe e num voo certeiro e rápido não dá chance de defesa à sua vítima. Só ouço um último esganar desesperado do Bem-Te-Vi. No chão, por sob a árvore, um gato pega um rato e brinca com sua vítima antes de lhe dar a mordida fatal. Em segundos não há mais vestígio do rato. Ao pular, feliz, para a rua o gato se depara com um Doberman e, sem tempo de reagir, emite um miado profundo e dolorido ao sentir os caninos do cão a penetrarem sem piedade em seu corpo.
Saio da janela, pego o jornal e me deparo com um artigo de um economista da ONU dizendo que um bilhão de pessoas-meus semelhantes- estão passando fome hoje no mundo. Penso, com indiferença, a natureza é bela...e má...cruel...e impiedosa...como nós, seus filhos diletos.
Zé Antonio, dia desses vi a seguinte cena: um homem sentado na calçada da padaria Colonial, em Icaraí, tendo ao lado seu cachorro, ainda filhote. Ambos moradores de rua. Passa uma mocinha, talvez dos seus quinze ou dezesseis anos, e se choca com a cena. Se pudesse, ela levaria o cachorrinho consigo. Foi o que falou para a mulher que a acompanhava. Parece-me que, na cabeça dela, o mais desamparado é o cão. O homem, esse, não tem salvação. E, se tiver, talvez se degenere posteriormente. É essa a nossa atual situação.
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