7 de abril de 2010

Vergonha e Canalhice

Mais uma tragédia causada pelas chuvas,  agravada, e muito!, pela desfaçatez, canalhice e falta de um mínino de espírito público de nosso homens ditos públicos. A grande maioria deles, em verdade, usa o que deveria ser público em proveito próprio. Enquanto nós não aprendermos, no Brasil, que o que é público é nosso: de todos nós, tragédias como a de ontem serão recorrentes. Percam um tempinho, entrem no Google e leiam as declarações dos políticos após as enchentes de 1966: as mesmas desculpas, o mesmo cinismo, a mesma desfaçatez dos de hoje.

Historicamente fomos ensinados por nossas elites que o que é público não tem dono; com este discurso se apropriam do que deveria ser de todos nós. A ladainha é sempre a mesma: falta de verbas, construções irregulares(cadê os orgãos de fiscalização!), população mal-educada, etc, etc, etc..


 Falta de verbas: Lógico que faltam, mas somente onde são mais necessárias: educação, saúde, transporte e saneamento. Não faltam para dar empregos a milhares de vagabundos, apaniguados de políticos mais vagabundos, que criaram os chamados cargos de confiança para, às custas de nosso dinheiro, dar emprego público a uma súcia de parentes, cabos eleitorais, amantes, namorado de neta- é, estou falando do Sarney- e quem mais lhes aprouver. E fica tudo por isso mesmo. E tome impostos bolso-adentro para sustentar à malta de vagabundos!
Brasília, meus amigos, onde não se produz nada- a não ser ladrões de dinheiro público aos borbotões, é a cidade com maior poder aquisitivo do país...é, é verdade, vejam os dados do IBGE.

Reclamamos todos, o tempo todo, e nada fazemos, aceitamos passivamente a bandalheira deles como se fosse direito-divino. O Estado não é de ninguém, é sim, digo eu, é dessa aristocracia cínica e inconsequente, que só olha o próprio umbigo. Quando deveria ser nosso, nos servir, não com as migalhas que nos dão de favor, não!, mas como direitos que temos e estão na constituição. Não quero favor, quero o que é meu, nosso, e nos é negado diuturnamente. Sonho? Sim, talvez, mas é melhor sonhar do que ter pesadelos ao ver os rostos falsamente compungidos do governador e do prefeito a justificar as centenas de mortos de mais uma tragédia anunciada...até que venha a próxima. São eles, nossa classe(falta de) política, com as exceções de sempre, os maiores assassinos destes " tristes trópicos".


Só para lembrar, mais uma vez: o inefável Paulo Salim Maluf, está com prisão decretada pela Interpol em todo o mundo. E aqui, exatamente onde sua roubalheira foi praticada, está livre, leve, solto e é, pasmem!, deputado federal. E vocês ainda têm coragem de contar piada de português. Me poupem!

5 comentários:

  1. Zé Antonio,
    Seu texto é veemente e corajoso e traduz tudo que sei de sua visão de mundo.
    Estou contigo e não abro, ipsis litteris, tim-tim por tim-tim, sem tirar nem pôr uma única vírgula.

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  2. Vai, meu vinking, com teu machado em punho, corta todas as cabeças dessa Hidra que cá da nossa parte, dos que compartilham contigo desta santa indignação, cauterizaremos cada toco de pescoço que restar deste mito-monstro-tão-real que nos assola. E só de sacanagem, como diz a poeta, nunca abra mão de ser honesto!

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  3. É um texto veemente, sem dúvida. Honesto também. Mas, desculpe, se digo é pela admiração que lhe tenho, é um discurso muito simplório.

    Tem alguma, bem pouca mesmo, coisa a ver com política. Também menos a ver com geografia ou meteorologia. E nada com Deus.

    Se, partindo daquele velho princípio bíblico, todos os males que acontecem servem tão somente para corrigirmos nossos erros e estes erros não são corrigidos, o problema é o coletivo. E o coletivo, neste caso, é a sociedade humana. Mais que isto, o ideário seguido por esta sociedade de seres humanos com capacidade de raciocínio; neste outro caso, um "ajuntamento" de cariocas (paulistas também utilizam a mesma 'cartilha') com pensamento positivista nos moldes europeus.

    Maldito Augusto Comte! Mais maldito ainda seja Benjamim Constant!

    Se este meu parvo comentário for lido por algum francês, peço, por favor, monsieur, que não o interprete mal.

    De qualquer modo, a questão aqui não são os bulevares, os modismos, a tradição européia, africana, chinesa, japonesa, enfim; não! Quanto a isto é até bom que haja alguma heterogeneidade... Consolida nossa valorosa coragem! Sabemos que esta nossa sociedade é prudente: fiscaliza erros e detecta defeitos com gosto... Mas o que eu me pergunto é se vale progredir em novos ou velhos hábitos estripando nossa mais legítima, fidedigna e delicada tradição?

    O que custa realmente é a percepção desta nossa dependência psicológica, a qual nós sofremos, aos costumes de outros povos, no que nos impede, gradualmente, de descobrirmos nossas virtudes e constituirmos uma identidade autêntica. Sim, querido amigo, não possuímos uma identidade que é nossa; nem creio mesmo naquela que nada é, descrita pelo "almofadinha paulista" Mário de Andrade. É pior que isto. O maestro Vila-Lobos sabia o que é este povo mais que qualquer escritor "modernoso" ou antropólogo morto. É que afinal de contas, entre as pecúnias e os deflúvios, já temos um pequeno e tênue saldo; não?

    De modo que, ao meu ver, enquanto pensarmos que melhor é protestar e 'enraivecer-se' - ao invés de refletirmos, sopesarmos e somente depois discutirmos sincera e honestamente uma possível melhora, sem, no entanto, pretensão e garantia de sucesso, mas que será nossa - ficaremos nestas mesmas angustias; e, entre uma 'tragediazinha' aqui outra acolá ou alguma revolta balofa que remete a algum projeto fútil de "político ficha limpa", ficaremos atolados na mesma lama esbravejando aos quatro ventos e nos sentindo frustrados com qualquer ser que caminhe sobre a face da Terra.

    Outra vez afirmo: Maldito positivismo e cientificismo 'afrancesado'! Eis "o Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". E do fim, creio que estão mesmo escrevendo algo por aí nestes salões de sociedade; já este meu infeliz comentário em blogue alheio também está no fim de sua linhas; creio que por ora, não vai mal, nem bem. Fato que me faz pedir desculpas pela tamanha imprudência nas palavras. De modo que corrija ou elimine, meu caro amigo Zatonio, o que sentir vontade ou julgar ruim.

    Deixo-lhe um respeitoso e forte abraço; e força aos irmãos que vivem em tão encantadora parte desta nossa república. Em meio a tanto pessimismo e lama, que o Cristo, ou qualquer outro símbolo 'sobre-humano', passe a mão redentora por cima das cabeças dàquelas criaturas que sofrem.

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  4. Ricardo,bom amigo, prefiro não meter Deus no meio das canallhices humanas. Os colonizdores chegaram por essas plagas com a cruz de Cristo na frente, e cometeram o genocídio que conhecemos. Com a cruz na frente, escravizaram milhões de seres humanos, com a cruz na frente a inquisição torturou e matou milhares em nome, eles diziam, de Deus. Em nome de Deus canalhas exploram a miséria de nosso povo construindo impérios.
    Simplóriamente sugiro a você que leia Os Donos do Poder de Raimundo Faoro, em minha modestíssima opinião, um livro seminal para quem quiser entender um pouquinho melhor nosso país.

    Quanto ao espaço, utilize-o à vontade, é nosso, que procuramos construir um país melhor. Ainda que com visões diferentes de mundo. Isso é democracia. Abraço!

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  5. Exatamente, Zatonio, tocou em um dos pontos principais: a burocracia e a corrupção fruto do "Estado Absolutista". Embora as práticas iluministas e positivistas, a meu ver, sejam as pragas que desvirtuam os limites e crenças (como conceito de ideia, não de fé); no âmbito político - que, aliás, penso ser arte menor em comparação com a desgraçada identidade de criação que falava no comentário anterior - é comum o uso da máquina pública para promover 'favores pessoasis' a prefeitos, deputados, governadores, senadores... Ou àquelas classes ou grupos que detém algum privilégio geralmente centenário.

    Creio que o doutor Faoro apontava neste sentido, que a corrupção iniciou-se nesta estrutura "patrimonialista" difundida pelo Estado Português; e, sabemos, este era "absolutista".

    Percebo o quão profundo é o problema, não é uma questão de lamentar a nossa morte; pois se a morte de um homem não justifica nenhuma ideia, não refletir sobre a perda deste que já não tem mais voz é uma forma cruel de desrespeitá-lo. Além de não alcançarmos solução alguma, desgraçadamente. Daí o meu pessimismo quanto a revolta simples ou o protesto balofo; abraçar a Lagoa, aí no Rio, ou "passear" aos berros na Paulista, aqui em SP, chega a ser até leviano com a própria consciência. Frustra-me da mesma maneira os editoriais jornalísticos e a classe intelectual acadêmica.

    Se não me engano, foram os germanos que difundiram o "absolutismo", em seus ideais de hereditariedade, confusão entre a riqueza gerada e supressão de algumas instituições formidáveis do Império Romano. Os romanos distinguiram bem o que deveria ser do particular e o que era da "res pública" - ou "coisa pública". Por que diabos sempre vem algum intelectual e, invés de aprimorar, muda o curso de valores instituídos geração a geração? Por isso aprendi a temer 'revoluções', principalmente as de caráter simplesmente político - são as mais nefastas...

    Penso que não se trata de criar algo novo, jurisconsultos muito antigos, antropólogos estudiosos e simples homens refletindo e sopesando com sinceridade já alcançaram o defeito. Mas a nossa velha falta de identidade, onde temos sempre que "copiar" ideologias vindas do além-mar, parece impregnar esta nossa alma cafajeste deste nossas origens. Num capitalismo orientado para o Estado Republicano (da coisa pública, não o apregoado por Constant e sua 'turminha laica'), haveria terra suficiente a todos neste país que é 'continental'; porém com estes valores vindos do iluminismo, ainda atrelado ao malfadado absolutismo, ficamos perdidos, sem saber (a)onde ir ou mesmo sem ter (a)onde morar (e mesmo na residência metafísica). Só nos resta o morro, a lama e a ironia da morte.

    Sinto muito mesmo por estarmos vivendo mais esta tragédia entre autênticos irmãos brasileiros, e num país que é tão maravilhoso... É pena!

    Grande abraço.

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