16 de abril de 2010

Na calçada

Havia um homem caído na calçada. Passei por ele como se não houvesse ninguém. Mas o homem estava lá, caído na calçada. Maltrapilho, barba por fazer, uma garrafa vazia de cachaça nos braços. Abraçava-a junto ao peito como se fosse a mulher amada. O amor perdido, a dor insuportável, a saudade que estraçalha a alma...

Não sei, só sei que havia um homem caído na calçada e eu segui meu caminho como se não houvesse um homem caído na calçada. Quanta dor, quanto desamor, quantas desventuras terão sido necessárias para deixar o homem caído na calçada.

Todos viam mas ninguém olhava o homem caído na calçada. E , no entanto, havia um homem caído na calçada. 
E pelo homem caído na calçada passavam católicos, evangélicos, espíritas...ateus, agnósticos. Todos humanos, demasiadamente(des)humanos, como eu!, para "sentir" que havia um homem caído na calçada...

2 comentários:

  1. Beleza, Zé Antonio! É a versão humanista da pedra no meio do caminho de Drummond.
    Beleza, mesmo, mano!

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  2. Violência... miséria... corrupção... tem sempre um desses na calçada, na porta, na sala, na tv, nos corredores... banalizada anda a Vida!

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