Nos dias de hoje ser político no Brasil, virou quase que sinônimo de bandido, com as exceções de praxe. Estamos a duras penas reconstruindo a democracia no país, é um processo longo e doloroso, mas temos de seguir em frente. Duas gerações se perderam sobre o tacão da ditadura militar, onde a prática política foi severamente reprimida- a não ser para aqueles que se aproveitaram do regime ditatorial para crescer politicamente, gente como Zé Sarney( que completou 80 anos ontem; o diabo deve estar de férias!), Paulo Maluf, ACM e outros menos "votados". Aos saudosos da ditadura é sempre bom lembrar que o ensino público do país, esteio de qualquer nação!, entrou em decadência exatamente no período do poder discricionário, que favoreceu, sem pudor algum, o ensino privado. Temos hoje milhões de analfabetos funcionais devido ao abandono do ensino público de qualidade: OBRIGAÇÃO CONSTITUCIONAL DO ESTADO...está lá na constituição, não é favor,nem é gratuito: é pago com o dinheiro(ou deveria ser!) de nossos impostos.
Bom, mas quero falar de um homem negro e gago que, em nossa sociedade elitista e racista-do pior tipo de racismo, pois a segregação é feita por subterfúgios: Eu não sou racista...mas aquele crioulo...Sem contar o sem fim de piadinhas feitas no intuito de denegrir os negros brasileiros, tão brasileiros como o mais albino de nossos conterrâneos. Foi o trabalho escravo, um crime inominável!, quem construiu esta nação, que diz não ser racista, mas foi a última a abolir o nojo da escravidão. E, como sempre, como se fosse favor de nossas elites: muitos morreram lutando pela liberdade, essa luta, mais a pressão da Inglaterra foram os fatores que levaram ao fim do regime escravocrata no país. Não fosse isso...
Quais as chances de um homem negro, pobre e gago ascender socialmente numa sociedade elitista como a nossa? Quase nulas, vocês hão de convir, pois o Zé Ferreira venceu e chegou a ser prefeito de Calçado nos anos sessenta do século passado e, pasmem!, deixou a prefeitura com todas as contas pagas e dinheiro em caixa. Não, não no caixa dois, deixou nos cofres da prefeitura.
Lembro-me dele, em suas roupas simples andando a pé por todo os rincões de Calçado, uma Bíblia nas mãos, parando e conversando com todos: ricos, pobres, brancos, negros, crianças, a todos, sempre, uma palavra de carinho, consolo e afeto. Sua presença exalava paz, poucos seres humanos são capazes disso: o de levar paz por onde passam; o Zé era um desses. E até hoje é assim: quando me lembro dele os sentimentos que me vêm são de paz, calma, tranquilidade, humildade, ternura...sentimentos a cada dia menos cultivados por nossa sociedade do TER a qualquer custo...ainda que seja a miséria de milhões.
Sabe o que falta no mundo? Menos "eficiência", menos "produtividade", menos ganância e mais Zés, como o Ferreira: um homem simples e BOM, uma grande ALMA!
Concordo, bom texto.
ResponderExcluirEntretanto, há sim chance de um homem negro, pobre e gago ascender socialmente - mais que isto: ser extraordinário.
Machado de Assis, mulato, pobre (nasceu no Morro do Livramento), epilético e consta que era meio gago, ascendeu à sociedade - não apenas isto, ascendeu à cultura brasileira e estabeceu-se lá, no olimpo dela. E não consta que simples, bom, nem tivesse lá grande alma; tinha, ou tem, apenas algo incomum, extraordinário: o gênio...
Zé Ferreira é esplêndido, mas comum. Apenas cumpriu bem o seu papel de humano; o que todos deveriam fazer, diga-se.
Machado não, não cumpriu nada e por isto ascendeu na vida. Ficasse apenas no seu papel de humano seria um excelente jornalista, ou político, funcionário de gabinete, presidente de academia; sabe-se lá. Mas ele não foi humano, foi bruxo, o velho do Cosme Velho.
Abraço, Zatonio. Excelente reflexão a sua, como sempre. Blogues como o seu dão gosto de visitar, fazem-nos pensar na própria vida. Parabéns, meu amigo!
Ricardo Novais falou tudo. E mais não digo. Apenas concordo com ele.
ResponderExcluirParabéns, Zé Antonio!
Ser uma pessoa de Bem deveria ser o de praxe! Infelizmente não é o que se vê por aí...Fazer o que é obrigação nossa é o óbvio,mas infelizmente não é e outros infelizmentes por aí...Fazer o certo é quase merecer medalha quando seria o natural. Gente! É procurar não fazer aos outros o que não queremos que nos façam!
ResponderExcluirParabéns, Zé Antônio. Refletir nos dias de hoje é uma tarefa árdua. Um país marcado pela corrupção e o descaso só engendra atitudes mesquinhas e ególatras, refletir nesta conjuntura niilista e alienada é um ato de resistência louvável.
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