Dia dos pais, minha mãe avisa a mim e meus irmãos que o pai viria mais cedo para jantarmos juntos em um restaurante. Era uma sexta-feira e estranhei a notícia pois meu pai não era dado a essas comemorações- achava puro comércio, comerciante que era.
Marcou para 20hs.
Antonio Lahud, era seu nome de batismo, Tonicão para todos. Pesava cerca de 110ks, quando magro, o normal era por volta de 120ks distribuidos com fartura por cerca de 1,80m de altura. Não vou falar mais, a história que vou contar dirá quem e como ele era.
Todo mundo pronto, esperando sua chegada e...nada. Deu 9hs,10, 11, meia-noite e nada.
- Sabia- diz a mãe, hoje é sexta-feira, deve estar bebendo com os amigos e esqueceu da gente, vou preparar alguma coisa para vocês comerem. Quando ele chegar vai se ver comigo, deixa ele!- exclamou e saiu furinbunda, rumo à cozinha.
Todos de cara feia, com fome, sexta-feira perdida quando entra o pai- já meio alto, uma sacola em umas das mãos, na outra um pequeno embrulho.
- Poxa pai- digo- começando a reclamar.
- Ninguém fala nada- eu explico, mas antes peguem uma cerveja para mim. Minha irmã foi lá pegou a cerveja, serviu e sentamos para ouvir a explicação:
- Demorei por causa disso aqui- disse- colocando o pequeno embrulho por sobre a mesa.Ganhei de presente dos meninos lá do posto- completou, já chorando.
O presente era uma carteira de dinheiro, daquelas feita em plástico barato, e os meninos eram dois garotinhos negros e muito pobres que ficavam calibrando pneus lá no posto. Eram simpáticos e meu pai logo se tomou de amores pelos dois. Passou a dar almoço, comprou camisa do Flamengo e acompanhar os estudos...essas coisas de pai.
- Mas por que está chorando?- indaguei.
- Vocês não entendem- disse ele- quando estava saindo do posto os meninos vieram e me deram a carteira de presente pelo dia dos pais, compraram com o dinheirinho que ganham lá, calibrando pneus.
- E aí?- perguntei.
- Aí me deram um abraço e um beijo; não aguentei comecei a chorar, botei os dois no carro e levei eles para jantar em um restaurante- nunca tinham ido em um, comeram à vontade, tomaram sorvete, uma farra danada. Depois comprei seis galetos para cada um levar pra casa e comprei mais seis pra vocês: tão aí nessa sacola. Foi isso que aconteceu, agora podem zangar...terminou- ainda chorando.
Como que combinados, levantamos os três, eu, meu irmão e minha irmã e fomos dar um abraço no velho- todos com lágrimas nos olhos!
As lágrimas que escorrem em meu rosto agora não são só de tristeza e saudade por sua ausência, não pai; são antes lágrimas de alegria por ter sido você o meu pai...
Saudades...
Fiz essa crônica há algum tempo atrás, hoje como é dia dos pais resolvi republicar. A história é verdadeira e meu pai, entre tantas, talvez seja a maior saudade que carrego dentro do peito.
Abraço, velho...saudades, muitas!!!
Tal pai, tal filho.
ResponderExcluirConheci alguém que, com certeza é igual, né não?
ResponderExcluirVige, que entrou um cisco no meu olho e tá que tá puxando água. Entre os chineses antigos era costume dizer-se que amor verdadeiro só entre pai e filho, com os outros é devoção e respeito.
ResponderExcluirSó quem conheceu o Tonicão para saber como ele era, saber de sua devoção para os filhos,
ResponderExcluirum grande abraço
Orlando
Então primo, eu ja estava arrepiando so de falar dessa crônica... é uma saudade mto grande, dessa pessoa tão forte nessa família, sempre alerta, sem nunca deixar cair a peteca e principalmente, sem perder esse lado humano qdo era sempre mais os outros do q ele próprio que meu pai tb tanto adimirava. São essas coisas q nos fazem gente, e superar coisas!!! Belas lembranças, bela crônica!!! bjos, Daisy
ResponderExcluirZatonio,
ResponderExcluirSem comentarios pq senaum comeco a chorar.
Tai o motivo pq meu boneco favorito se chamava Tonico.
Bjos
Denise